Sinopse:

Alvasärien está em guerra. O Rei Galahad rompeu a aliança com os elfos e declarou guerra ao povo do Oriente, de Al Hari. O povo anão se isola sob as montanhas voltando-se para suas escavações e nada mais. Assim, Alvasärien se torna o palco perfeito para um feiticeiro vingativo agir. Após destruir toda uma poderosa e quase esquecida raça, ele parte para seu verdadeiro objetivo. Lucian é o último de sua raça, sobrevivente da queda de seu reino. Jovem dragonar – humano com sangue de dragão nas veias – que preza a honra acima de tudo, mas que nunca gostou de levar nada a sério se vê em uma busca por vingança, atrás daquele que destruiu tudo que ele amava. Ao lado de seu fiel companheiro Banodir, Lucian deverá formar alianças e conseguir a força dos Cinco Dragões Lendários para vingar seu povo e impedir que a mão sombria deste feiticeiro se alastre pelo mundo.

Perfil

Nome: Bruno Lima
Idade: 23
Signo: Gêmeos / Coelho

Blogs Amigos

As crônicas de Nemuran
Além da Terra do Gelo
Grinmelken
Necrópolis

Links dos capítulos

Introdução!


Arquivo

Layout Por jú-chan


16:45:00

(...)

– Quem é o senhor? – perguntou o garoto, ao alcançá-lo.
– Alguém que acabou de salvar sua pele, foguinho. Devia ser mais grato. – respondeu Lucian, brincando com o cabelo dele e mostrando seu largo sorriso mais uma vez.
– Nunca vi ninguém enfrentando Theron e seus homens daquele jeito. Também nunca vi o senhor por aqui. – ele andava apressado para se manter ao lado de Lucian.
– É porque eu não sou daqui. – Então ele parou e olhou o garoto nos olhos. – E o Senhor está lá em cima garoto. Sou Lucian... Muito prazer.
O pequeno garoto olhou para Lucian, com a mão estendida e o fitou por um instante. Logo retribuiu o sorriso e apertou sua mão. – Muito prazer Lucian, meu nome é Gideon, mas todos por aqui me chamam de Gid. De onde você vem Lucian?
– Venho de muitos lugares Gid! – respondeu e voltou a caminhar, erguendo as mãos para sentir as gotas da chuva caindo. Agora mais fraca.
– Nunca vi ninguém brigar como você. Aquele golpe que você deu no capitão, nossa! Onde aprendeu? – Gideon se excitava com a conversa a cada segundo.
– Você gosta mesmo de perguntas, não é? Não está meio tarde para alguém da sua idade estar perambulando por aí?
– E você não gosta muito de respondê-las, não é? – o semblante do menino mudou rapidamente e ele baixou a cabeça. – Tive alguns... Problemas em casa. Precisei sair um pouco para arejar.
– Problemas? Ora garoto, você é só um... Um garoto! Não deve ter problemas. – disse Lucian pondo sua mão na cabeça dele, despenteando seu cabelo, já descabelado. Huh... Lembro muito bem de quando você era mais novo do que ele e dos problemas que você arranjava pra mim. Disse Banodir, surgindo de um beco escuro, sendo ouvido apenas por Lucian.
Ao ver aquela criatura feroz, quase de seu tamanho e com dentes afiados, Gid pulou pra trás de Lucian, apontando com dedos tremidos para Banodir.
– Senhor Lucian, cuidado! Tem um animal selvagem atrás de nós! – foi o que disse, agarrando com força o manto gasto dele quase ao ponto de rasgá-la.
– Calma Gideon, não tem motivo para se alarmar, é só meu grande amigo Ban. – respondeu sorrindo como sempre, indo até Banodir e afagou sua cabeça. Não disse que você iria arranjar confusão. Completou Banodir, rejeitando a carícia.
– O quê? Vai querer dar lição de moral agora, é? – disse Lucian empurrando a cabeça dele, deixando Gideon sem entender nada.
– Mas... Mas... Como assim? Seu... Amigo?
– Hei, hei... Não vai estourar a cabeça agora garoto. Gid este é o Ban. Ban este é Gid. – Gideon ainda se escondia atrás de Lucian e Banodir estava sentado de frente para eles, imóvel. É um prazer Gid. Lucian repetiu suas palavras, assustando mais ainda o garoto.
– Ele fala? – exclamou Gideon, se acalmando um pouco.
– Fala, fala sim. Mas só comigo. Tormenta minha cabeça todo santo dia, não é Ban. Este tem sido meu único companheiro durante... Anos. Na verdade, não sei o que faria sem o Ban. – disse Lucian, olhando dentro de seus anéis em chamas. Tem sido bom pra mim também, rapaz. Banodir fez algo parecido com um sorriso, que pareceu mais enjôo para Gideon.
– Bom, chega de papo! – cortou Lucian. – Já é tarde e seus pais devem estar preocupados. Vou levá-lo de volta pra casa, vamos! – Gideon não o contradisse, os guiou até sua casa, fazendo perguntas o tempo todo para seu novo “herói”. Mas, para sua infelicidade, nenhuma delas era respondida. Pelo menos não diretamente. Lucian sempre enrolava nas respostas ou respondia com uma pergunta ou tirava sua atenção. Era bom nisso.
Quando finalmente chegaram a sua casa, não tão longe do Touro Cinzento, Gideon chegara a uma conclusão: Lucian realmente não gostava de perguntas.

***************************

– Capitão, o senhor está bem? – perguntou Rud, um dos três soldados que acompanhavam Theron na taverna e tentava ajuda-lo a se levantar.
– Cale a boca, soldado! Vá agora à Casa de Guarda e avise que temos um criminoso perigoso a solta! – gritou Theron, sentindo sua garganta desinchar e o som rouco ir. – Dê o alerta e mande revirarem a cidade! Quero esse sujeito preso e enjaulado até o amanhecer. Procurem por aquele velho ermitão também. Vou puni-lo pessoalmente por ousar me desobedecer!
– Sim senhor, capitão! – Rud e os outros dois soldados correram rua abaixo, até a Casa de Guarda, onde os Cavaleiros Reais se juntavam ao anoitecer. Theron, parcialmente recuperado, pegou sua espada do chão, limpou a lama e a embainhou em seu cinto.
– Não sei quem você é rapaz, mas juro que irá sentir a fúria de minha lâmina arder em suas entranhas antes de arder no inferno!

***************************

Gideon parecia relutante a entrar em sua casa e logo Lucian percebeu o porque. Olhando por trás de Gid, ele pode ver uma marca roxa em seu pescoço, mas achou melhor não dizer nada sobre isso.
– Hei Gid, não se preocupe. Amanhã eu passo aqui bem cedo e você me mostra sua cidade. Cheguei aqui ontem, mas estou curioso sobre Terem. E em relação aos... problemas que você citou antes ter. Bem, apenas lembre-se de uma frase que um conhecido meu disse uma vez: Para tudo se da um jeito!
Vendo Lucian sorrir daquele jeito acalmou Gid que se despediu e entrou. Pobre garoto. Disse Banodir, quando recomeçaram a andar de volta para a hospedaria. Não acredito que os humanos consigam fazer uma coisa dessas com suas crias.
Você viu Ban? Realmente é uma coisa horrível, mas não cabe a nós nos meter. Tudo que podemos fazer é tentar relaxar um pouco o garoto e... Talvez se eu fizer um encanto sobre seus pais... Banodir o repreendeu nesse momento, mesmo sabendo que ele brincava. Lembrou-o de uma vez, quando Lucian aprendeu o encanto da amnésia com seu antigo instrutor de magia.
Dois homens brigavam por algum motivo fútil e tentando apartar a briga, Lucian usou o feitiço para fazê-los esquecer do motivo da briga. Mas ao invés de fazê-los se esquecer do motivo, o jovem feiticeiro os fez esquecer não só da briga, mas de quem eram, onde estavam e até que eram humanos. Um deles começou a cacarejar como um galo, enquanto o outro agia como um vegetal. Foi preciso levar os dois homens para o Conselho de Feiticeiros para o dano ser consertado.
Não queira comparar minhas habilidades atuais, com minhas habilidades de quando eu era apenas um nyed. Embora ainda ache esse feitiço um pouco complicado, já aperfeiçoei minhas técnicas e não cometo erros infantis. Pelo menos, não mais. Acho. E riu com vontade.
Levaram menos de dez minutos para chegar à hospedaria. Dessa vez caminharam conversando sobre Theron e seus homens. Comparavam o código de honra dos cavaleiros de Gálata com os de Hashnir. De fato, não haviam nada em comum. Theron não chegava nem a sombra de Hastäad. O pensamento em compará-los pareceu uma piada para Lucian e Banodir.
Logo que chegaram, foram dormir. Não muito, porém, afinal o sol já se preparava para clarear o mundo ocidental. Lucian apenas enrolava as últimas horas de sono na cama, enquanto Banodir apagou no instante em que se deitou. Por volta das oito da manhã, Lucian se arrumou e foi de encontro ao garoto, deixando seu companheiro resgatar o sono perdida.
De volta a casa do pequeno Gideon, Lucian batia na porta, mas não era atendido. Começava a ficar preocupado quando um sujeito mal vestido com barba por fazer veio à porta.
– O que você quer? – junto com as palavras veio o bafo nauseante de álcool.
– Eu procuro pelo pequeno Gideon. Ele... está? – O homem o fitou com olhos tortos, tentando se manter ereto, com certa dificuldade.
– O que você quer com aquele moleque? Ele andou causando problemas por aí? Porque se for eu juro que... hic... acabo com...
– Não senhor, pelo contrário. O seu... filho me prometeu uma turnê pela cidade. Veja, eu sou um forasteiro e prometi também que iria pagá-lo pelo serviço. – ao ouvir a palavra “pagar” os olhos do homem brilharam e por um momento ele pareceu sóbrio.
– Hei moleque, vem já aqui! Tem alguém aqui querendo falar com você! – por alguns instantes não houve resposta, então o homem fechou a porta e tudo que Lucian pode ouvir foi: – Anda moleque, por que demora? Vem logo antes que eu lhe enfie a mão por não me obedecer!
Lucian sentiu uma ânsia muito grande de entrar e “enfiar a mão” naquele sujeito, mas se conteve. Logo o pequeno Gid veio à porta. Seu olho estava roxo e ele estava mais cabisbaixo do que a noite anterior.
– Olá senhor Lucian, po-posso ajudá-lo? – se sentia extremamente envergo-nhado por ser visto naquele estado.
Sem dizer nada, Lucian deu seu largo sorriso e estendeu um saco. Pelo som que produziu aparentava conter moedas.
– Lembra que me prometeu mostrar a cidade hoje cedo? Pois bem, me atenho fielmente às promessas que me são feitas e aqui estou. Podemos ir? – Gid forçou um sorriso e pediu um minuto para se arrumar. Em segundos retornou sem se despedir do pai e com bastante pressa para se afastar da casa, antes que aquele homem (como o chamava, pois não gostava de chamá-lo de ‘pai’) decidisse embaraça-lo mais na frente de seu “herói”.

Durante algum tempo, andaram em silêncio. As ruas, diferente do dia anterior, estavam cheias e as pessoas falavam alto, quebrando o silêncio entre os dois.
– Você deve estar com fome, não? – perguntou Lucian, sem olhá-lo. – Conhece algum lugar que possamos comer? – Gid olhou para o alto, tentando alcançar seus olhos e conseguiu sorrir sem esforço.
– Sim, conheço o lugar perfeito. E é aqui perto.
Seguiram em linha reta por mais duas ruas e virarem à direita. Lucian começara a achar o caminho familiar, até que Gid mostrou seu destino. A hospedaria, que também era uma espécie de pensão. O forasteiro não mencionou que estava hospedado ali, apenas deixou Gideon guia-lo, se sentir um pouco no comando e esquecer seus problemas. Sentaram-se em uma mesa e chamaram o taverneiro. Possuindo mais comida que bebida no cardápio, poucos freqüentavam o lugar, dando espaço para os dois conversa-rem mais livremente.
Pediram uma refeição simples: ensopado de javali com uma generosa porção de batatas coradas, robustas e apetitosas, uma torta de queijo fresca inteira e um bolo de damasco com creme de menta, além de uma jarra de suco de uva. O taverneiro riu ao ouvir a lista e Gideon o acompanhou, achando que Lucian estivesse brincando, mas quando ele olhou para o taverneiro sem entender o motivo do riso ele respondeu que logo viria com a refeição.
– Senhor Lucian, não sei se percebeu, mas eu sou bem pequeno e não como muito. – disse Gideon, ainda achando graça da situação.
– Em primeiro lugar, já falei para parar com essa coisa de senhor. E segundo, de onde venho isto é só a entrada de nossas refeições. Mas não se preocupe, deixarei algo para você comer também. – soltou uma gargalhada após o comentário, fazendo o garoto rir mais e definitivamente esquecer seus problemas de casa.

Dessa vez Lucian estava mais acessível às perguntas de Gideon, respondendo às que ele achava caber ao garoto saber. – Minha terra natal é desconhecida por muitos hoje em dia, mas lembrada por todos nos contos e lendas. Prefiro manter o nome sobre sigilo por enquanto, mas posso te adiantar que era um lugar lindo, Gid. – disse quando Gideon perguntou o nome de sua cidade.
– Animais que você jamais verá em qualquer outro canto do mundo. Ban é uma delas. Frutas silvestres de sabores inigualáveis e flores com aromas afrodisíacos. Voa... Digo, andar pelas florestas era a coisa mais agradável e relaxante que você possa imaginar e a magia envolvia cada ser de nosso reino. – inspirou e expirou profundamente. Imagens e lembranças tomaram sua mente e Gideon ficou a encará-lo enquanto o via viajar em sua mente. Seus olhos brilhavam inocentemente e um sorriso infantil tomou conta de seus lábios. Lucian sempre fora um rapaz bonito, mas se tornava ainda mais quando pensava em sua terra natal, Hashnir. – Huh... Prometo levá-lo para conhecer meu lar algum dia. Não está mais tão belo e pacífico como foi um dia, mas... Mas ainda há beleza a se encontrar, creio.
– Que bom. Espero que não se esqueça de sua promessa, pois também me atenho às promessas e não abrirei mão desta. A propósito, onde está seu amigo peludo? – perguntou Gid, dando total atenção a cada palavra que saía da boca de Lucian.
– Achei melhor deixa-lo dormir um pouco mais. Nossa viagem foi cansativa e como passamos a noite em claro, ele bem que merecia um descanso. Cá entre nós, o Ban fica bem rabugento quando não dorme direito. – falou baixinho, como se Banodir pudesse aparecer e ouvi-los falando. Gideon pos a mão na boca e escondeu um risinho.
Quando a comida chegou, eles deram uma pausa na conversa, pois Lucian não parecia dar atenção a mais nada, a não ser em seu ensopado e naquelas batatas deliciosas. Comia como uma verdadeira besta selvagem, sem parecer chegar à satisfação. Gideon se contentou com uma tigela do ensopado, uma fatia do bolo e um copo do suco deixando todo o resto para seu companheiro que devorou tudo em minutos. E no final, parecia continuar com fome.
Extasiado, Gideon terminou sua refeição antes que aquela fera devorasse sua parte também.
– Você realmente come tão bem quanto luta. E falando nisso, onde você aprendeu a lutar daquela maneira? Não conheço outro modo a não ser com espadas.
– Bom isso é um assunto que discutiremos outra hora. Já é tarde e ainda temos muito que fazer, não é?
– É? – perguntou Gid.
– Claro. Isso deve pagar a conta, não é senhor? – tirou três moedas de ouro de seu bolso e pôs na mão do taverneiro que parecia não acreditar na quantia em sua mão, uma vez que tal refeição como esta não passaria de algumas moedas de prata. Fechou sua mão rapidamente e enfiou-a no bolso antes que o sujeito mudasse de idéia e agradeceu até sua próxima geração pela generosidade.
Nos dias de hoje o ouro era bem valioso, sendo que dez moedas de pratas valiam uma de ouro. E cada uma de prata valia dez de bronze. Esta última era facilmente encontrada no mercado e não era surpresa quando alguém trocava uma moeda de ouro por 50 ou mesmo 70 moedas de bronze.

Saíram da pensão/hospedaria e Lucian perguntou se havia algum ferreiro na cidade. Precisava do serviço de um e também queria presentear o rapaz com alguma coisa útil para alguém de sua idade. Afinal, na idade de Gideon, ele já possuía sua própria adaga e caçara sua primeira refeição.
No caminho da casa do ferreiro, que era do outro lado da cidade, era a vez de Lucian fazer as perguntas.
– Então Gid. Aquele sujeito que conheci hoje cedo é a causa do problema que lhe tirou de casa tão tarde ontem? – mais um momento de silêncio, que começava a se tornar rotina entre os dois, até que finalmente respondeu.
– Sim. Aquele era meu... meu pai Gedward. Ele costuma beber bastante e às vezes perde a noção do que faz. O que na verdade é mais do que “às vezes”.
– E é quando ele te bate? – direto como uma flecha no meio do alvo.
– Sim. Mas desta vez eu consegui fugir e fui para o único lugar que me sentia bem, na taverna do Sr. Kroll. Ele me conhece desde pequeno e sempre me acolheu quando aquele sujeito bebia demais e... você sabe.
– E sua mãe Gid? Ela também sofre com esse problema?
– Não, não mais. Minha mãe nos abandonou quando eu tinha uns três anos. Não agüentava mais a vida que levava aqui, eu acho. Então ela fugiu e me deixou pra trás com ele.
– Entendo. Ainda falta muito até o ferreiro? – do mesmo modo que puxou o assunto ele mudou, no momento em que alcançavam à casa do ferreiro Merock.
– Não, já chegamos.
– Então esta é a casa do ferreiro da cidade? – perguntou, pegando uma maçã do bolso da jaqueta e mordeu com vontade.
– Esta é a casa do Sr. Merock, o ferreiro da cidade. Sem dúvida em uma cidade como Terem há vários, mas eu não confiaria minha espada a nenhum outro além do Sr. Merock. – respondeu Gid, esforçando um sorriso. Seu olho ainda doía e sorrir fazia doer mais.
– E você tem uma espada para confiar a alguém, pequenino? – disse Lucian, arrancando metade da maçã com uma dentada.
– Não, mas quando eu comprar uma será dele, com certeza! – os dois riram e entraram na casa.
Não havia nada de demais naquele lugar. Era bem escuro, graças às janelas fechadas e não havia clientes lá dentro. Apenas o ferreiro corpulento no fundo da sala na frente de sua forja, martelando um pedaço de metal incan-descente. O som era alto e claro, ribombando pelos ouvidos dos visitantes e o calor ali dentro era intenso. Lucian deu uma escaneada no lugar, olhando os itens que o senhor Merock tinha a venda e dando outra mordida em sua maça. Só de ver, ele percebeu que se tratava de um homem com o dom de forjar peças de valor.
– Voltem mais tarde. Ou até mesmo amanhã, estou muito ocupado! – gritou Merock sem se virar para receber seus visitantes.
– Ora seu velho rabugento, deixe de ser mal-educado e venha me receber, trouxe um cliente importante para você! – reconhecendo aquela voz arrogante e jovial, Merock parou de martelar e se levantou. Virou na direção dos dois e andou até eles, mancando da perna direita. Merock era bem grande e corpulento, forte como um touro e sujo como um porco, porém esperto como uma raposa. Um sujeito que dava medo de olhar, especialmente por causa da enorme cicatriz que tinha no lado direito do pescoço. Também era cego do olho direito.
Merock chegou bem perto dos dois e os encarou nos olhos. Demorou um pouco em Lucian, que terminava seu lanche e depois encarou o pequeno Gid. Logo Gid caiu na gargalhada e Merock respondeu com um leve sorriso.
– Você e essa sua mania de dar uma de durão. Sei muito bem do que o você é feito Merock!
– É, mas se continuar a estragar minha reputação desse jeito arrancarei sua cabeça fora do corpo, pequenino! – Riram com vontade, deixando Lucian sem entender a piada.
– Lucian este é meu grande amigo Merock. E este é meu mais novo amigo Merock, Lucian. – disse Gideon, apresentando os dois. Fitaram-se por um longo minuto até que finalmente apertaram as mãos. Lucian não se lembrava de apertar uma mão tão pesada desde Hastäad. – Ele me disse que precisava ver um ferreiro e eu lhe disse que não havia homem melhor na arte da forja do que você.
Merock assentiu. – Hmmm, entendo. E o que posso fazer por você?
– Minha espada. Há anos que a tenho e sinto que nossas aventuras chegam ao fim. Peço para que o senhor veja o que pode ser feito. Se achar que devo abrir mão desta, então peço para que me mostre seu trabalho para que ela possa ser bem substituída. – Lucian passou sua espada para as mãos ásperas e grossas do ferreiro que a analisou cuidadosamente. Brandiu-a no ar e checou seu fio, cortando a ponta do dedo.
– Está bem afiada, para uma espada velha. – disse Merock, ainda olhando a espada. – Serei sincero com você rapaz. Ela está realmente bem gasta e acho que dará um bom trabalho ajeita-la, mas não é impossível. O verdadeiro problema é que em todos os anos que venho trabalhando como ferreiro, nunca vi tal minério com o qual sua espada foi forjada. Pode me dizer que tipo de material é?
– Na verdade não. Ela foi um presente de alguém muito especial e receio que esta pessoa também não possa responder tal pergunta.
– Isso dificulta meu trabalho. Nesse caso não me arrisco a fundir qualquer outro material a ela. Pode deixá-la menos resistente ou até mesmo mais pesada. Se quiser que eu realmente dê um jeito em sua espada, terei de derretê-la e remodelar o aço. Pode levar tempo... e dinheiro.
Lucian olhou o homem nos olhos como se tentasse ler seus pensamentos. Infelizmente não aprendera esse truque, seu mestre dizia ser muito cedo para aprender tal habilidade e seus ensinamentos foram interrompidos antes que aprendesse. Mas ainda assim ele sabia ler as feições e sabia dizer quando uma pessoa mentia ou tentava deixa-lo para trás. O olho de Merock era firme e não desviava dos seus. Não tinha dúvidas, o homem era honesto.
– Muito bem. O que você acha Gid? – perguntou olhando para o garoto.
– O que eu acho? Acho que se Merock não consegue, não vai conseguir achar ninguém por estas bandas que conseguirá. Como eu já lhe disse Lucian, eu não confiaria minha espada a mais ninguém. – Merock sorriu ouvindo o garoto falando.
– Está bem, não posso recusar tamanha confiança. Faça o que tiver de fazer senhor, mas peço para que se supere. Não disponho de muito tempo e sou um tanto impaciente.
– Não trabalho sobre pressão. – foi o que o ferreiro respondeu asperamente.
– E não peço que trabalhe. Quero um trabalho bem feito e não espero nada inferior a isso. Sei que o senhor tem sua lista de clientes prioritários, mas peço que leve em conta que isso se trata de um caso de vida ou morte. Minha estadia nessa cidade não pode se prolongar mais do que três dias e já gastei metade do primeiro. Faça o que tiver de fazer senhor, é tudo o que peço.
Lucian sorria levemente como sempre fazia, deixando o ar a sua volta mais agradável e o referenciou. Essa sem dúvida era sua maior habilidade. Merock se deixou levar pelo jeito do rapaz e aceitou o serviço, mas deixou claro que não seria um trabalho barato. Lucian aceitou e apertou novamente a mão do ferreiro. Desta vez mais firme, mostrando que seu corpo magro continha mais força do que aparentava. Quando se largaram, Merock se conteve para não abanar a mão.
– Que bom que chegamos a um acordo. – disse o pequeno Gid, bem sorridente.
– Concordo. – completou Lucian. – Você poderia esperar lá fora um instante, Gid. Gostaria de falar com Merock a sós um instante. – Gid assentiu e foi lá para fora, fechando a porta atrás de si. Merock fechou a cara e encarou o rapaz mais uma vez. – Tome. Um adiantamento para seus gastos – disse Lucian dando uma bolsinha com algumas moedas dentro. Moedas de ouro. – Cuide bem desta peça, senhor ferreiro. Ela é importante e tem um grande valor sentimental.
Merock não disse uma palavra. Pegou a bolsa de moedas e assentiu. – E outra coisa. Você teria algo que o pequeno Gid poderia usar? – Merock parou para pensar e coçou sua barba. Mostrou o que tinha ao rapaz, que pegou o que queria e foi embora sem dizer mais nada.
– Foi rápido. O que conversaram? – perguntou Gid quando Lucian saiu.
– Segredos de adulto. – respondeu sorrindo e bagunçando o cabelo dele. – E qual será o próximo ponto a me mostrar?
– Ah sim, vou te levar até a loja da Senhora Ery. Ela vende plantas e ervas. É bem famosa aqui na cidade.
– Me parece que você conhece muitas pessoas famosas aqui, não? – brincou. – Mas conte-me Gid, o que houve com o Sr. Merock? De onde vêm aquelas cicatrizes?
– E depois diz que eu sou curioso – riu de seu próprio comentário. – Antes de ser ferreiro Merock era um cavaleiro, mas ele não gosta que eu comente isso com ninguém então peço segredo, por favor!
– Seu segredo estará seguro!
– Mas não um simples cavaleiro, um capitão assim como Theron – continuou. – Quero dizer não como Theron, porque Merock é um homem bondoso e corajoso. Já me contou muitas de suas aventuras, até mesmo ao lado do Rei Galahad. Uma delas foi quando ele e seus homens tiveram que expulsar um grande número de woulers dos arredores de Guilia. Infelizmente as criaturas estavam em vantagem numérica – começava a se empolgar e contava da mesma maneira que Merock lhe contou: articulando bem os braços e fazendo caretas. Merock era um homem bondoso, no fundo. Sua vida lhe trouxe muitos infortúnios e por muito tempo ele foi rabugento e rude, mas Gideon trouxe de volta um pouco de sua bondade e alegria.
– Eles lutaram com coragem e não recuaram. Merock disse que perdeu muitos homens naquela tarde e durante o combate ele perdeu seu olho, quase morreu com aquele corte no pescoço, mas no fim eles saíram vitoriosos. Já sua perna, ele se feriu em uma expedição em uma das cavernas perto de Guilia atrás da mais woulers e pedras soltas caíram sobre ele e seus homens. Uma delas caiu sobre sua perna e se não fosse por um amigo dele e não estaria aqui hoje. E adivinha só o nome desse amigo? Axelus! Sim, o grande General dos exércitos de Gálata. – sorriu orgulhoso.
Lucian já ouvira aquele nome antes e o respeitara pelo que ouvira. Logo chegaram à loja de plantas e ervas onde Gideon apresentou a senhora Ery para Lucian, que lhe fez um bom desconto na compra de algumas ervas medicinais. A partir daí o dia foi bem calmo e relaxante.
Caminhavam despreocupados pela multidão. Sabiam que eram procurados pelos soldados, mas não tinha como serem descobertos no meio de tanta gente. Não tentavam mais descobrir sobre o passado um do outro. Gid lhe mostrava a cidade e Lucian ouvia atentamente as histórias hilárias que o garoto lhe contava. Como da vez que Troi, o garoto durão de quem não gostava, pusera fogos de artifício no palco aonde um coral de meninas iriam se apresentar cantando a vinda da primavera. Quando toda a cidade estava assistindo aquelas belas meninas cantando tão docemente ao comando de uma sacerdotisa, Troi acendeu o pavio em baixo do palco que seguia até onde as meninas estavam e tudo começou a estourar.
Fogos por todos os cantos, meninas gritavam desesperadas e a sacerdotisa não sabia se ela se benzia ou acalmava as meninas. Troi ria que se acabava em baixo do palco, olhando por entre as tábuas aquelas meninas nojentas que sempre lhe ignoravam berrando de medo e correndo feito baratas tontas.
– Foi um dia marcante. – foi o que Gideon disse no final do conto. Lucian, que sempre fora a favor de um bom trote, gargalhava como uma criança. Nunca se divertira tanto desde aquela noite sombria. Banodir era uma boa companhia, mas estava longe de ser tão divertido quando o garoto Gid. Lucian começava a se sentir bem com a presença do menino. Mais tarde se sentiria mal, sabendo que logo teria de partir, deixando o menino para trás com suas histórias engraçadas e seu bom-humor; diferente de alguém que conhecia.
Não poderia ficar com o garoto, tinha uma missão a cumprir. Também não poderia levá-lo consigo, não era seguro e nem justo para ele.
Conforme andavam pela cidade tumultuada, Lucian perscrutava tudo e todos. Boatos corriam da noite anterior no Touro Cinzento e havia cavaleiros por todos os lados. A descrição que fizeram dele havia sido impecável e qualquer um poderia achá-lo e entrega-lo para os Cavaleiros Reais, se assim quisessem.
Felizmente, as pessoas estavam ocupadas demais vivendo suas vidas e tentando ganhar seu pão de cada dia para se preocupar em entregar um sujeito qualquer para os Cavaleiros, sem ao menos uma recompensa justa. E sendo Theron no comando, a recompensa era insignificante.
Vendo o conhecimento do rapaz sobre a cidade, Lucian aproveitou para buscar informações não só a respeito da cidade, mas informações importantes para sua missão pessoal.
– Gid, me diga uma coisa – começou. – Você é um rapaz atento aos fuxicos da cidade, certo? Gostaria de saber se ouviu algum boato... digamos, estranho.
– Não entendo. – respondeu o garoto.
– Algum forasteiro estranho. Qualquer coisa fora do comum desta cidade.
– Além de você – olhou-o e sorriu. – esta cidade é cheia de forasteiros, todos bastantes incomuns. Mas não, creio que você seja a única novidade na boca do povo. Todos falam de sua ação na taverna do Sr. Kroll ontem à noite. Mesmo assim, não chega a ser incomum por aqui.
Ele não esteve aqui. Pensou Lucian. Ou apenas está escondendo bem sua presença. Mas no fundo... eu sei que ele está perto. Gideon estranhou o semblante sério de seu companheiro, mas achou melhor ficar quieto. Logo Lucian voltou à realidade e a sorrir.
– E sobre aqueles ditos cavaleiros? – perguntou mais uma vez o Dragonar. – Comparados aos cavaleiros de minha terra natal, aqueles não passam de bárbaros bem armados.
– Sim. O Capitão Theron e seus homens não passam de bandidos. Dizem que Theron só se tornou capitão das forças de Gálata por ter salvado uma família real. Lutou sozinho contra seis mercenários usando apenas sua espada e escoltou a família até o Castelo de Guilia. Alguns anos depois de sua nomeação a capitão, boatos surgiram de que os tais mercenários eram cúmplices de Theron e tudo foi armado para ele se tornar um cavaleiro.
Hunf... não duvido nada disso. Aquele homem não possui qualquer honra em seu peito. Lucian achou melhor manter o pensamento para si mesmo e continuou ouvindo a história.
– Não tem muito tempo que ele foi designado a cuidar de Terem e desde então nós estamos à mercê dos mercenários. Como pode ter visto à noite a cidade fica nas mãos deles. Theron não fornece qualquer proteção e pelo contrário, extorque dinheiro dos comerciantes pelo preço de proteção. E os poucos cavaleiros que vivem aqui estão a mando dele.
– De fato os cavaleiros de Gálata não são nada do que eu imaginava que seriam. Uma pena. – disse Lucian olhando para o céu aberto e ensolarado.
– Ó não, Lucian. Não se deixe enganar por alguns poucos. – indagou Gideon, parando de andar. – O Rei Galahad é um bom homem, um bom rei... ou costumava ser. Lembro que quando eu era pequeno muitos falavam bem do Rei e de quanto se orgulhavam de tê-lo, mas de uns anos para cá só ouço reclamações. Porém seus cavaleiros são dignos e honrados, tanto quanto os de sua terra, ouso dizer. Seu General, Axelus, é um grande cavaleiro e graças a ele as criaturas da terra foram banidas da superfície e os mercenários escondidos nas montanhas. O problema é que Theron é uma cobra venenosa e ganhou a confiança deles. Mas a maioria dos cavaleiros de Guilia são honrados e de confiança.
Lucian fitou o garoto que falava com tamanha determinação. Ele real-mente acreditava no que dizia e não tinha porque não ser verdade. Gálata era um reino famoso e também seu rei. Com certeza o problema era Theron e se assim verdadeiramente fosse, Lucian solucionaria esse problema.

Ao entardecer, Lucian acompanhou Gideon de volta até sua casa, onde seu pai já não mais se encontrava. Fora até uma taverna (qualquer uma a não ser o Touro Cinzento, onde o Sr. Kroll o banira pelo que fazia com seu filho) gastar tudo que ganhara aquela semana. Sendo um local, Gedward trabalhava como todos os locais, com comércio e vendia qualquer coisa que achasse perdido e aparentasse valor. Ele era o vendedor mais mesquinho e infame da cidade. Todos amavam o pequeno Gid, mas amaldiçoavam até os piolhos do velho ranzinza, que nem era tão velho assim.
– Obrigado pela tarde, Lucian – disse Gideon, a alguns metros de sua porta. – Eu me diverti bastante mostrando a cidade para você.
– Eu também Gid, talvez possamos repetir amanhã. O que acha? – respondeu Lucian, o sorridente.
– Eu gostaria muito. Amanhã eu devo resolver alguns assuntos pela manhã, mas você pode vir logo após o almoço. – foi o que o garoto respondeu, mal sabendo conter sua agitação. Olhando com devoção para o homem a sua frente.
– Está certo, passarei pra te buscar na hora do almoço. Comeremos alguma coisa juntos.
– Comeremos não. Você vai comer e eu assistir, não é? Por pouco você não comeu minha parte também e também daquele casal ao lado. Ainda não entendo como alguém pode comer tanto.
Lucian gargalhou mais uma vez e finalmente se despediu, apertando a mão dele e tirando outra maça de seu bolso da jaqueta. Caminhou devagar de volta para a hospedaria degustando sua fruta favorita. Pensamentos acerca do futuro rodeavam sua mente. Estava perdendo muito tempo em Terem e sabia que cada minuto gasto seria cruelmente cobrado no futuro. Esperava que o pequeno Gid estivesse certo e Merock fosse tão bom e rápido quanto dizia.
Quando chegou a seu quarto na hospedaria, viu que Banodir ainda dormia. Estava acostumado com seu companheiro preguiçoso, afinal os Hoöngar dormiam bastante. Poderiam ficar dias sem dormir, mas quando o fizessem por final, ficariam dias, se não semanas descansando. Por sorte, Banodir sabia exatamente quando poderia descansar e quando era hora de correr. E no momento, podia descansar.
O sol começava a se por no horizonte, bem além das Montanhas de Karkazan quando Lucian se deitou para dormir. Precisava recuperar suas energias e por algum motivo, tinha a impressão de que conseguiria dormir a noite inteira pela primeira vez em anos.

.
.
.
.
Ae galera, esta é a segunda parte do primeiro capítulo. A primeira se encontra lá na comunidade do orkut ( link abaixo), para os interessados.

http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=26388587


Bom proveito!!
E bom resto da semana para todos!


escrito por Bruno Lima